Por que Exu é o primeiro a ser oferendado

Exu é o primeiro porque é ele quem acorda o mundo. Antes do galo cantar, é ele quem já anda pelas encruzas, cutucando destino, abrindo estrada, espalhando aviso, temperando a vida com movimento. A gira só gira porque Exu rodopia antes.

Não se trata de bajulação. É fundamento. É mito vivo. É sabedoria que veio da África atravessando navio, ferro e lágrima.Nas bandas de Ifé, contam que um dia os Orixás quiseram ofertar suas dádivas ao céu. Foram todos com seus ebós bem ajeitados, temperados com dendê e intenção. Mas esqueceram de Exu. A pressa em agradar Olodumare fez com que deixassem o Senhor das Travessias de lado.

Resultado? Nada andou. Nada subiu. Nada chegou.Exu, na dele, trancou os caminhos e ficou vendo a bagunça acontecer. Foi preciso que Orunmilá consultasse Ifá para descobrir o erro.“Vocês esqueceram Exu.” Pois é. Sem o porteiro do céu, o portador das mensagens, o caminho vira parede.

Exu é correio, é sinal de fumaça, é tambor que leva recado de gente pra Orixá. Não tem oferenda que ande se não tiver Exu na frente dizendo “pode passar”.

E ele não passa pano. Não se presta ao papel de coitado esquecido, nem quer aplauso de plateia. Ele exige ser lembrado porque sabe quem é. Por isso, é primeiro. Não é o mais bonito, o mais calmo, o mais “aceitável” aos olhos colonizados. Mas é o mais necessário. Sem ele, o santo não escuta. Sem ele, a gira trava. Sem ele, o axé não desce.

Quem entende Exu entende a vida: precisa haver desvio pra haver caminho. Precisa haver encruza pra haver escolha. Precisa haver Exu pra haver rito.

É por isso que na Umbanda, no Candomblé, no tambor que bate forte no peito de quem tem fé, Exu é o primeiro. Não por luxo.Mas por lei ancestral.

E quem tem juízo oferece logo um copo de cachaça e um padê de dendê antes de qualquer coisa. Porque Exu é o início da conversa. Sem ele, é tudo silêncio.

Axé, Pai Daniel

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